segunda-feira, 12 de fevereiro de 2018

O Amor é Cego Capitulo VI


Demetria acordou muito cedo e muito ansiosa porque era o dia de seu casamento. Sabia que, mesmo se tentasse, simplesmente não conseguiria dormir mais. Deixou-se ficar na cama por alguns minutos, pensando eufórica sobre o dia à sua frente e principalmente sobre a noite.
Lembrando-se então dos óculos novos, sentou-se abruptamente na cama, tirou-os da bolsinha em que estavam guardados e os colocou no rosto.
Um suspiro de satisfação brotou-lhe aos lábios, O mundo estava em foco novamente. Já não era sem tempo. Tinha uma constante dorzinha de cabeça de tanto firmar e estreitar os olhos na tentativa de enxergar um pouco mais do que meros borrões. Talvez não ficasse muito bem de óculos, mas o mundo à sua volta certamente ficava muito melhor,
Não era nada agradável deixar de usá-los quando tinha vontade de gritar de alegria para que todos ouvissem que finalmente conseguia ver. Mas achava melhor ainda mantê-los em segredo até que estivesse segura do amor de Joseph. Apesar de ele afirmar o contrário, temia que tivesse se disposto a casar somente para evitar mais um escândalo para ela.
De óculos agora, Demetria considerou por um breve momento dar uma escapada até a biblioteca para pegar um livro. Antes, porém, que tivesse se decidido, o som do giro da maçaneta da porta quebrou o silêncio do quarto. Ela imediatamente tirou os óculos e pegou sua bolsinha. Mal teve tempo de guardá-los, Taylor entrou no quarto.
A madrasta estava segurando alguma coisa que colocou sobre a penteadeira, mas Demetria não saberia dizer o que era. Depois ela se aproximou da cama. Que pena que não estava com seus óculos para ver a cara dela, pensou. Porque a vinda de Taylor naquele horário e no dia de seu casamento não poderia ter um propósito muito bom.
— Seu pai achou que eu deveria lhe explicar as coisas que se passam na cama depois do casamento — disse Taylor, sem qualquer preâmbulo.
Demetria precisou se conter para não soltar um sonoro suspiro. Desconfiava de que não iria gostar nada daquela conversa. Joseph parecia ter pressentido que a madrasta faria de tudo para assustá-la sobre os acontecimentos logo mais à noite, e ela agora via que ele estava certo. Tentou pensar em uma maneira de impedi-la de falar, mas desistiu. Se todas as mulheres se casavam e sobreviviam, por que com ela teria de ser diferente. Não se deixaria influenciar pelo que Taylor lhe dissesse. Só não entendia a razão de o próprio Joseph ter se mostrado tão relutante em conversar sobre o assunto e, embora não quisesse pensar a respeito, não lhe saía da cabeça aquela história de dor e sangue.
— Vou lhe contar da mesma maneira que minha mãe me contou — disse Taylor levantando a mão. — Consegue ver isto?
Demetria apertou os olhos. O objeto que Taylor segurava era pequeno e escuro, mas não dava para ver direito o que era.
— É uma chave — Taylor explicou, caminhando em direção à porta. — Venha até aqui.
Demetria hesitou, depois empurrou as cobertas, levantou-se e foi até a porta.
— Agache-se um pouco e fique com o rosto bem perto daqui, Demetria. É importante que você veja isto.
Demetria fez o que a madrasta havia sugerido e Taylor colocou a chave na fechadura.
— Você está vendo que coloquei a chave na fechadura — confirmou, — Minha mãe me explicou que o homem tem a chave e a mulher, a fechadura. Joseph vai colocar a chave dele em sua fechadura e assim o casamento estará consumado.
Demetria mordeu os lábios e teve certeza de que a rigidez que a cutucara entre as pernas era a chave em questão. Também tinha uma boa idéia de onde ficava sua fechadura. Joseph, na verdade, a havia explorado bastante na noite do incêndio.
— Minha mãe, porém, era uma mentirosa deslavada — Taylor continuou e Demetria, muito espantada, foi novamente se sentar. — Não é nada tão simples e nem tão limpo quanto parece com essa demonstração — assegurou Taylor. — Agora venha até aqui.
Demetria levantou-se e acompanhou Taylor até a penteadeira onde ela havia colocado alguns itens. Inclinando-se e firmando os olhos, Demetria pôde ver que havia um pequeno bastão de prata e um tipo de torta. Enquanto ela ainda estava inclinada sobre a penteadeira, Taylor pegou o bastão.
— Esse é o tamanho aproximado do equipamento masculino, ou, segundo a explicação de minha mãe, da chave.
Demetria avaliou o item, imaginando que deveria ter entre quinze e vinte centímetros de comprimento. Nunca havia visto aquilo antes e se perguntava de onde Taylor o havia tirado. Deixou, porém, de divagar, ao ouvir Taylor falar novamente:
— A torta é a fechadura. Sua fechadura não está aberta e é perfeitamente compatível com a chave do homem. E pequena, estreita e tem um fina película chamada... hímen.
Demetria firmou o olhar no rosto de Taylor ao sentir o evidente desconforto de sua voz. Tocar nesse aspecto mais técnico aparentemente a constrangia. Mas ela foi em frente.
— E o homem tem que romper essa película na primeira vez. Assim!
Demetria teve um sobressalto quando Taylor fincou o bastão na torta com um golpe violento. Demetria olhou para a torta estraçalhada e então pegou um lenço para limpar a geleia que havia se espalhado por todo o lado e respingado em seu rosto. A torta era de morango ou framboesa e, por mais cega que fosse, dava para ver o bastão meio enterrado na torta, recoberto com o vermelho escuro da geleia.
— Você vai sangrar — Taylor avisou com um meio sorriso e, como deve imaginar, vai sentir dor, mas se tiver sorte, ele acabará rapidamente e a deixará sozinha para descansar e chorar com privacidade. Pessoalmente, duvido que lorde Mowbray tenha essa consideração.
Sem se importar com a sujeira que havia feito, Taylor se encaminhou para a porta e, antes de sair, disse secamente:
— Bom divertimento à noite.
Depois que a porta foi fechada, Demetria se sentou à penteadeira, sentindo uma grande fraqueza. Não conseguia tirar os olhos da torta. A crosta dourada que a recobria estava toda manchada, e o bastão espetado nela continuava firme e orgulhoso.
— Droga! — Havia jurado que não permitiria que Taylor a deixasse preocupada, mas tudo aquilo era bastante preocupante.
— Milady!
Demetria se voltou ao ouvir a voz de Joan que entrava no quarto.
— Sua madrasta estava saindo quando eu cheguei. Está tudo bem?
— Eu — Demetria pigarreou e acabou esquecendo o que pretendia dizer. Perguntou então de supetão: — É verdade que nós mulheres temos uma película e que o homem tem de rompê-la?
— Bem...
Demetria percebeu a relutância na voz da criada e insistiu:
— É ou não verdade?
— É, mas...
— É verdade também que sangra e dói?
Joan suspirou.
— Milady, não deve permitir que as palavras de sua madrasta a deixem preocupada. A primeira vez dói para muitas mulheres, mas...
— Então não dói para todas? — Demetria interrompeu, esperançosa.
— Ouvi dizer que algumas sofrem muito pouco — Joan assegurou.
— Ouviu dizer — Demetria ecoou. — Mas então não conhece ninguém que não tenha sofrido na primeira vez?
Joan hesitou novamente, depois foi fechar a porta do quarto e, com ar determinado, se aproximou de Demetria.
— Ouça, tenho certeza de que lorde Mowbray saberá conduzir tudo de maneira muito delicada. Agora vamos trocar de roupa.
— Mas...
— Milady — Joan a interrompeu com calma. — A senhora quer se casar com ele, não é? Ou preferia se casar com lorde Prudhomme ou com alguém desse tipo? Garanto que lorde Prudhomme não estaria nem um pouco preocupado com seu medo ou desconforto.
— Não mesmo — Demetria concordou e levantou-se com um suspiro. — Ajude-me então. Afinal, vou me casar hoje.
Era evidente a falta de entusiasmo na voz de Demetria. Até ouvir as explicações de Taylor, estava ansiosa para que chegasse a noite. Imaginava que seria ainda melhor do que a que tivera em seu quarto quando Joseph fez com que seu corpo fosse todo tomado de excitação e seu coração disparasse descontrolado. Agora que sabia o que a esperava, só podia se sentir triste por haver nascido mulher. Pois não tinha dúvida de que era bem melhor ser um bastão do que uma torta!
O padre era idoso e formal e parecia tão insatisfeito quanto ela de estar ali naquele momento. E, para completar, o dia estava frio e chuvoso, o que era bem pouco usual naquela época do ano. Demetria só podia imaginar que fosse um mau presságio do que estava para acontecer.
— Demetria?
Ela sobressaltou-se ao ouvir Joseph murmurar seu nome. Aparentemente todos estavam com os olhos voltados para ela.
— Você aceita...? — indagou o padre, em um tom insistente, como se já tivesse feito a pergunta uma ou duas vezes.
— Sim — Demetria o interrompeu prontamente, envergonhada de ser pega devaneando em um momento tão importante.
Dando-se conta de ter aceitado, ela soltou um suspiro profundo. Já não estava tão certa de que desejava mesmo ter dito o “sim”, depois de saber o que a esperava.
Tarde demais para se arrepender agora. Fizera seus votos e agora Joseph fazia os dele. Acabava de se tornar lady Demetria Montfort, esposa do conde de Mowbray. E não era nem sequer preciso perguntar a ele se queria que sua chave entrasse na fechadura dela. Era óbvio que ele queria.
— Eu os declaro marido e mulher. Agora pode beijar a noiva.
Mal tinha registrado essas palavras quando Joseph a tomou nos braços e a beijou. Demetria permaneceu dura em seus braços, sua mente em total confusão. Oito horas antes ela estava feliz e eufórica ao pensar que estavam se casando naquele dia. Agora não lhe saía da cabeça o bastão perfurando a torta com força.
Joseph deve ter estranhado a reticência dela, pois afastou seus lábios dos dela e a fitou com uma expressão preocupada. Demetria forçou um sorriso, tentando parecer natural. Então todos começaram a se aproximar ao mesmo tempo. Formou-se uma fila para assinar o livro de casamento e cumprimentar os noivos. Alguns minutos depois ela se viu carregada para o interior da carruagem e seguindo para casa. Para a casa de seu pai. Aquela que não seria mais sua casa. Dali em diante, moraria com Joseph.
— Vamos para casa?
Demetria ergueu os olhos do drinque que estivera bebericando. Sua expressão era de puro alarme. Aquele era o momento que estava temendo desde que chegara à casa do pai para a festa de casamento.
Mordendo os lábios, Demetria desviou o olhar para a sala cheia de convidados. Era surpreendente ver tanta gente presente, depois de ter sido evitada por quase todos os presentes desde que chegara a Londres. Além de seus próprios familiares e os de Joseph, lá estavam lorde e lady Havard, lorde e lady Achard, lorde Prudhomme e a mãe e diversas outras pessoas cujas vozes soavam conhecidas, mas que dificilmente ela reconheceria na rua se as visse, pela dificuldade de enxergá-las sem os óculos.
Ciente de que Joseph estava aguardando sua resposta, Demetria engoliu em seco, tentou dar um sorriso espontâneo e não conseguiu. Sua voz era um mero sussurro ao perguntar:
— Por que tão cedo?
Joseph levantou as sobrancelhas, surpreso, e disse baixinho: — Já é bem tarde, Demetria. Quase meia-noite.
Para um baile não seria tarde, por que seria para sua festa de casamento? Ela fez mais uma tentativa desesperada:
— Sim, mas todos ainda estão aqui. Não deveríamos esperar para que todos os convidados fossem embora?
— Demetria — explicou Joseph com toda a paciência —, faz parte da tradição que os noivos saiam primeiro. Todos estão aguardando nossa saída.
— Ah, não sabia. — Incapaz de pensar em qualquer outra maneira de postergar o momento de ir embora, Demetria colocou o drinque na mesa a seu lado e capitulou: — Vou pegar as minhas coisas.
— Os criados já levaram todas as suas coisas durante a cerimônia — ele informou, com delicadeza.
— Oh! Mas e Joan?
— Joan já está lá em casa também. Venha, vamos nos despedir de seu pai e de Taylor.
— Está bem. — Toda suspirosa, Demetria deixou-se conduzir pelo marido para se despedir primeiro do pai e Taylor, depois de lady Mowbray.
As coisas pareciam correr rápido demais para ela. No momento seguinte, já estavam na carruagem. Ela se sentou tensa e ansiosa em um dos cantinhos, com a mente toda tomada pelo que estava por acontecer.
Joseph manteve-se calado no canto oposto, mas ela sentia os olhos dele examinando-a durante todo o percurso. Demetria tinha consciência de que seu comportamento o incomodava, e quebrava a cabeça para dizer alguma coisa que pudesse aliviar a evidente tensão entre eles. Qualquer coisa que fosse. Mas sua mente estava bloqueada com a imagem da demonstração feita por Taylor.
Os criados de Joseph, seus também dali em diante, estavam todos perfilados à porta quando entraram. Todos sorriam e balançavam a cabeça em cumprimento à medida que Joseph, agora oficialmente, apresentava-os a ela, dizendo seus nomes. Demetria procurava retribuir os sorrisos, mas já não se lembrava de nome algum no momento em que começaram a subir a escadaria.
Ela tinha a sensação de estar sendo levada para a forca. Cada nervo de seu corpo gritava de medo e tensão. Ela quase gemeu quando Joseph abriu a porta do quarto. Vendo-a hesitar, ele a empurrou gentilmente para dentro.
Ao ouvir a porta ser fechada, Demetria se virou, arregalando os olhos. Seu marido não havia entrado com ela. Sentiu como se tivesse tirado um peso dos ombros. Haveria uma breve prorrogação.
— Na casa nova finalmente!
Demetria enrijeceu o corpo ao som da voz alegre de Joan e ao voltar-se viu o vulto da criada caminhando em sua direção, cheio de energia. Demetria teve vontade de perguntar a ela a razão de tanta euforia, mas conteve-se.
— A cerimônia do casamento foi bonita? E na festa, tinha muita gente? A senhora dançou? A comida estava gostosa? Todos trabalharam muito para que tudo saísse perfeito — Joan comentou e começou a desabotoar seu vestido.
Ocorreu a Demetria mais tarde que talvez tivesse respondido às perguntas da criada, mas não saberia dizer que respostas dera. À medida que a criada a ajudava a tirar cada peça de roupa, seu pânico só fazia aumentar, sentindo-se cada vez mais vulnerável. Pouco depois, ela já havia se despido, tomado banho e se encontrava enfiada na cama, em uma linda camisola de renda.
— Pronto. A senhora está linda — Joan assegurou-lhe, como se isso importasse para ela. Desejando-lhe boa-noite, a criada saiu do quarto.
Demetria permaneceu estática no meio da cama. Seus olhos percorriam assustados as sombras escuras que a cercavam. Não dava para ver muito além da vela sobre a mesinha-de-cabeceira a seu lado. Depois de hesitar um pouco, ela se sentou e pegou a bolsinha que havia levado e pedido à criada que colocasse na mesa de cabeceira. Tirou os óculos de dentro e os vestiu para enxergar melhor seu novo quarto.
Já o havia visto no dia anterior quando Joseph a levara para conhecer a casa. Mas então estava sem os óculos e a impressão que causava era bem diferente à luz de vela. Escuro e melancólico, pensou. O vermelho que lhe parecera alegre à luz do dia, agora lembrava a cor do sangue.
Suspirando, ela deteve o olhar na cama. Era enorme, muito maior do que a que tinha na casa de seu pai. Era casada agora e aquela era a cama que compartilharia com seu marido. Esse último pensamento provocou-lhe um friozinho na barriga. Tirou os óculos e voltou a escondê-los na bolsinha. Deitou-se depois, considerando a possibilidade de fingir estar dormindo para que Joseph, quem sabe, deixasse a consumação para o dia seguinte.
Seria uma atitude covarde, pensou Demetria, que só prolongaria seu medo e faria com que passasse todo o dia seguinte ansiosa até que a tarefa fosse finalmente completada. Havia uma coisa que aprendera cedo na vida: em vez de adiar, era sempre preferível atacar logo as tarefas desagradáveis e livrar-se delas de uma vez. Além disso, seria bom saber o que teria de enfrentar todas as noites de sua vida dali em diante... Se é que teria de enfrentar todas as noites. Com que frequência o marido desejaria tê-la? Como, segundo ele, não havia sofrimento para os homens, só o prazer que ela havia experimentado naquela noite em seu quarto, talvez Joseph quisesse tê-la todas as noites.
Ela estremeceu ante essa ideia. O bastão na torta todas as noites pelo resto de sua vida...
Não devia ser daquele jeito, Demetria decidiu de repente. Lady Havard e lady Achard não estariam tão desejosas de ter um caso com lorde Prudhomme se fosse daquele jeito todas as vezes. Talvez o problema da dor fosse só com o bastão. Ela já sabia que havia muitas coisas que um homem e uma mulher fazem juntos que podem ser bastante prazerosas.
Demetria fez uma careta. Era uma pena que algo tão agradável terminasse de forma tão desagradável; difícil de acreditar que o prazer compensasse a dor. E ainda assim lady Havard e lady Achard pareciam não se preocupar nem um pouco de sofrerem. Pelo contrário, agora ela entendia o que Prudhomme andara fazendo sob as saias de lady Havard e, pensando bem, seus gemidos e suspiros não revelavam dor alguma.
Demetria franziu a testa perguntando a si mesma se ela também teria emitido sons quando Joseph fizera aquelas coisas com ela. Estava tão distraída descobrindo as sensações de seu corpo que não saberia dizer. Prestaria atenção da próxima vez. Aliás, a ideia da próxima vez fez com que esboçasse um sorriso melancólico. A próxima vez certamente não terminaria de maneira muito gostosa.
O olhar de Demetria voltou-se então impaciente para a parede onde ficava a porta que dava para o quarto anexo, o de Joseph. Já era tarde e o dia havia sido longo e estressante. Queria dormir. Mas por onde andaria seu marido? Gostaria que ele tivesse a consideração de acabar logo com sua ansiedade e permitisse que ela dormisse.
Realmente, agora lhe parecia ótima ideia fazer o que tinha de ser feito o mais rápido possível. Ela se virou impaciente de um lado para o outro na cama e então jogou as cobertas de lado e se levantou.
Demetria pegou a vela da mesa de cabeceira e caminhou com cuidado em direção à porta de comunicação com o quarto do marido. Sem dúvida, a vida seria muito mais fácil para ela se pudesse estar com seus óculos. Não via a hora de poder usá-los na frente de Joseph. Se ele soubesse o sacrifício que ela estava fazendo para ganhar seu amor!
Demetria soprou uma longa mecha de cabelo que lhe caía no rosto, estendeu a mão para evitar que se chocasse com a parede, e ficou aliviada ao sentir a superfície da porta. Então parou por um momento, respirou fundo e, armando-se de coragem, colocou a mão na maçaneta. Era melhor assim. Quanto tempo será que levaria? Certamente não demoraria muito. Um momento desagradável, depois poderia relaxar e dormir. Resoluta, girou a maçaneta e abriu a porta.
Joseph virou-se para o lado de costume na cama e soltou um suspiro conformado. Depois que Keighsley o ajudara a desvestir-se e banhar-se, dispensou-o e sentou-se na cama, tentando decidir o que fazer. Seu primeiro impulso foi o de ir imediatamente ao quarto de Demetria e consumar o casamento. Só o pensamento o deixava extasiado.
Infelizmente, porém, notara que ela não estava bem. No dia anterior havia se mostrado plenamente confiante e feliz com o casamento, mas desde o momento em que entrara na igreja, ele percebera que havia algo de errado. Ela estivera distraída e ansiosa durante E a senhora concordou em ajudá-lo? — Demetria perguntou, incrédula. Toda a cerimônia, depois quieta e tensa durante a festa, sempre afastando-se um pouco quando ele se aproximava dela, como se não aguentasse sua presença. Depois não demonstrara nenhum entusiasmo de deixar a festa e ir para a nova casa.
Ele não sabia qual era o problema e tinha receio de perguntar. Temia que ela tivesse conseguido ver melhor o seu rosto e agora abominasse a ideia de viver com ele. Era o tipo de coisa que Taylor poderia ter armado, pegando emprestados os óculos de outra pessoa e feito com que ela olhasse pela janela para ver com quem estava se casando. Se esse fosse o caso, a felicidade que tivera naquelas semanas e que almejava perpetuar no futuro não existiria.
Ao longo das últimas semanas, a mente de Joseph estava sempre tecendo sonhos e fantasias sobre uma feliz vida conjugal. Entrevia uma casa cheia de amor e riso, chorinho de criança, e Demetria sempre ao seu lado, compartilhando de seus dias e de suas noites.
Mas seu coração doía ao pensar que tudo isso podia estar lhe escapando. Não tinha coragem de perguntar a ela o que a aborrecia e, pior ainda, receava procurá-la na cama e ser repelido com repulsa. Por isso, estava acovardado e havia resolvido deixá-la descansar aquela noite. O dia havia sido longo, disse a si mesmo. Na manhã seguinte, veria como ela estava se sentindo. Se tivesse apenas sido o estresse do casamento e a mudança para a nova casa, Demetria certamente acordaria com melhor disposição. Caso não fosse...
Joseph amaldiçoou em silêncio o ferimento que o transformara em uma besta humana. Queria ser atraente para a esposa, queria que quando ela colocasse os óculos pudesse continuar olhando para ele com o mesmo amor e atração que demonstrava desde que haviam se conhecido.
O ruído da porta se abrindo interrompeu os pensamentos que Joseph amargava. Ele virou-se confuso para o lado onde ficava a porta de comunicação entre os dois quartos e arregalou os olhos ao vê-la ser aberta, mostrando a chama de uma vela.
— Joseph? — Demetria o chamou baixinho, estreitando os olhos na tentativa de localizá-lo no quarto. — Por que está tão escuro aqui? Onde você está, meu marido?
Joseph abriu a boca para responder, mas a voz não saiu ao ouvir a palavra “marido”. Marido. Era a primeira vez que ela se dirigia a ele assim e seu coração se apertou no peito. Marido. Ele era agora o marido de Demetria.
E era sua esposa que surgia ali, usando uma fina camisola de renda. Transparente e sensual, a camisola revelava muito mais do que encobria do corpo dela e não era somente seu coração que reagia agora àquela visão, emoldurada pelo cabelo solto e brilhante, caindo em ondas pelos ombros.
— Joseph?
Pigarreando, ele se sentou na cama.
— Estou aqui, querida. O que você faz ainda acordada. Pensei que já estivesse dormindo.
Para seu espanto, Demetria pareceu contrariada ao ouvir essas palavras.
— E nossa noite de núpcias, milorde — disse ela, como se isso explicasse tudo.
Joseph não tinha tanta certeza. Tudo indicava que Demetria estivesse ali em busca dele, uma vez que ele não fora até ela, mas era difícil de acreditar nisso depois da atitude que ela tivera durante todo o dia.
— Achei que você estivesse cansada e preferisse uma noite toda de sono — justificou-se, inseguro.
— O quê? — Demetria protestou, não havendo dúvida de que suas palavras a deixaram irritada. — E me fazer esperar por mais vinte e quatro horas para consumar nosso casamento?
Joseph piscou os olhos. Ela parecia bastante consternada com essa possibilidade.
— Bem, é que você estava tão tensa e ansiosa o dia todo, que achei que seria uma consideração...
— Não quero sua consideração, milorde. Quero acabar logo com isso — Demetria avisou.
Era bom saber que ela estava tão ansiosa, Joseph pensou laconicamente, sobressaltando-se ao vê-la dar uns passos e tropeçar na mesinha ao lado da porta e derrubar uma vela apagada que estava sobre a mesma.
Resmungando, Demetria se ajoelhou, segurando com uma das mãos a vela que trouxera e tateando o chão com a outra para encontrar a peça que deixara cair.
Joseph hesitou um pouco, então jogou para o lado as cobertas e levantou. Ele estava completamente nu, mas, pensou, Demetria não enxergaria. Não que se importasse de estar nu na frente dela. Seu rosto podia estar marcado, mas seu corpo estava ileso e em perfeita forma. Em outras circunstâncias, porém, preferiria estar de pijama em respeito à virgindade dela, só que não podia imaginar que ela fosse aparecer.
— Deixe, eu pego para você — disse ele, atravessando o quarto para chegar perto dela.
Joseph estendeu a mão, com a intenção de ajudá-la a levantar-se, mas, não percebendo o gesto dele, Demetria levantou a cabeça para fitá-lo. Seus olhos, porém, não chegaram ao rosto do marido. Detiveram-se na virilha dele e lá congelaram. À meia-luz, Joseph observou como ela estava pálida.
— Deus do céu! — ela exclamou. — Sua chave é enorme.
Pelo menos é o que Joseph pensou ter entendido. Podia estar enganado, pois mal conseguira ouvir o que ela sussurrara. Mas se estava certo, o que ouvira não fazia sentido algum para ele.
Qualquer preocupação ou curiosidade sobre o que ela havia dito morreu instantaneamente quando Demetria aproximou dele a vela que segurava, como se quisesse avaliar melhor o que via. Era óbvio que a percepção de distância dela era nula. Joseph quase teve suas partes íntimas queimadas, não com água quente, como Mikey, e nem sequer tinha, como ele, a proteção de qualquer tecido entre seu corpo e o calor.
Joseph tirou o castiçal da mão de Demetria com uma das mãos e, com a outra, a ajudou a se levantar.
— Venha então. Se você quer mesmo consumar nossa união ainda esta noite, fico muito feliz — Joseph lhe assegurou, conduzindo-a até a cama. Pudesse ela ver, não duvidaria nem um pouco. Só a perspectiva de tê-la na cama já o deixara completamente preparado.
Joseph colocou o castiçal na mesa-de-cabeceira enquanto Demetria subia pelo outro lado da cama. Ao olhar para ela, viu que ela esfregava as mãos como quem lava roupa.
—Você tem que se deitar se quiser... — Joseph sugeriu inseguro. Pois na verdade, apesar de apregoar que desejava chegar às vias de fato, ela não parecia nem um pouco animada. Olhando indeciso para a esposa, Joseph não se conteve e perguntou:
— Demetria, o que há de errado?
Ela sacudiu a cabeça sem proferir uma palavra e continuou, com os olhos muito assustados, esfregando as mãos.
Joseph entendeu que todo aquele nervosismo só poderia ser medo e resolveu ser paciente e carinhoso com ela. Não insistiu, por exemplo, para que ela se deitasse, mas contornou a cama para se juntar a ela, pensando em beijá-la para acalmar um pouco a ansiedade. No momento em que se aproximou, Demetria passou para o outro lado da cama.
Joseph esboçou um sorriso e tentou subir na cama do lado onde ela se encontrava, mas Demetria se apressou em mudar para o outro lado.
Endireitando o corpo, Joseph olhou para ela. Eles estavam cada um de um lado da enorme cama. Demetria apertava as mãos e o olhar que lhe dirigiu não poderia ser mais assustado.
— Demetria — disse ele baixinho, mas não conseguiu falar mais nada porque ela, não aguentando mais a tensão, desabafou:
— Acho que não quero que sua chave penetre na minha fechadura.
Joseph emudeceu e piscou. Não estava entendendo nada. Novamente a história da chave. Que sentido fazia ela de estar preocupada com uma chave?
— Não tenho ideia do que você quer dizer, minha esposa.
Demetria estremeceu ao ouvi-lo dizer “esposa”, e explicou:
— Estou dizendo que não quero que você rompa minha torta com sua chave.
Confuso diante dessas palavras, Joseph perguntou:
— O quê?
— Minha fechadura é muito pequena para seu bastão.
— Demetria, você está falando em códigos? — Joseph perguntou, intrigado.
— Taylor me explicou tudo.
Joseph emudeceu; de repente, teve uma iluminação:
— Ah, Taylor.
Demetria concordou com a cabeça.
— Você me mandou perguntar a ela por que seria desconfortável... Nem precisei perguntar, ela me procurou para explicar tudo.
— Entendi. — Ele soltou um suspiro. Estava esclarecido o comportamento estranho de Demetria durante todo aquele dia. Ela ficara apavorada com o que Taylor lhe dissera e passara o dia do casamento temendo a noite que teria pela frente. E tudo por culpa dele. Havia sugerido que ela perguntasse a Taylor por total inabilidade de explicar-lhe o que devia.
— E foi Taylor quem inventou essa história de fechadura, bastão?
Demetria assentiu com a cabeça e contou a Joseph as explicações que Taylor lhe havia dado e, principalmente, detalhou a demonstração que fizera.
— E, embora eu esteja sem os meus óculos, me pareceu que seu bastão é enorme, milorde — ela completou em um tom aflito.
Joseph precisou conter o riso. Na verdade, não havia nada de engraçado em tudo aquilo. Taylor dera um jeito de tornar a noite de núpcias deles muito mais difícil do que precisava ser, mas sentia-se aliviado de saber que o comportamento da esposa nada tinha a ver com qualquer repulsa quanto a sua cicatriz.
— Demetria?
— Sim? — Ela ainda estava visivelmente assustada, com os olhos arregalados e o peito arfando.
— Você gosta dos meus beijos? — Joseph perguntou, pacientemente.
A expressão de Demetria ficou mais preocupada, como se temesse ser chantageada com a pergunta. Depois de um minuto de hesitação, porém, respondeu:
— Sim, milorde, gosto muito de seus beijos.
— E você gosta quando a toco e a acaricio?
Demetria levantou-se, como se estivesse pronta para fugir, mas concordou.
— E você gostou do que fizemos em seu quarto?
Demetria mordeu os lábios e corou, mas concordou novamente.
— Então que tal se fizermos aquilo de novo?
— Só beijar e tocar e... — Mesmo à luz da vela ele pôde perceber que ela ficou rubra — ...aquela outra coisa?
— Isso — Joseph mentiu. Tinha toda a intenção de avançar mais do que aquilo, mas era preciso que ela primeiro estivesse relaxada e preparada. Não ajudaria em nada falar antes da hora o que tinha em mente.
Demetria relaxou um pouco.
— Você não se importa de...
— Não perfurar sua torta? — Joseph completou ao vê-la com dificuldade de verbalizar a situação. — Não, não me importo.
Demetria soltou um suspiro de alívio e deu um de seus luminosos sorrisos, fazendo-o sentir-se o homem mais atraente do mundo. Não foi preciso que dissesse mais nada, ela se enfiou sob as cobertas e voltou a sorrir para ele, desta vez um sorriso cheio de expectativa.
Joseph também suspirou, consciente de que o pior já havia passado. Ele levantou então as cobertas e cuidadosamente se instalou na cama ao lado de Demetria.
Demetria sentiu o balanço da cama quando Joseph deslizou sob os lençóis para seu lado e se atirou sobre ele. Joseph soltou uma exclamação de surpresa e ela grudou em seu peito, beijando-o loucamente no rosto, no nariz, na testa.
— Obrigada, obrigada, obrigada — ela ficou repetindo entre os beijos. — Obrigada por ser tão compreensivo e paciente. Você é o melhor marido do mundo. Verdade, milorde, eu sou uma mulher de muita sorte.
A respiração de Joseph ao falar junto de seu ouvido então foi uma verdadeira carícia.
— Fico feliz de vê-la feliz.
— Hum. — Demetria sorriu, passando os braços em volta do pescoço de Joseph, e pediu quando ele a abraçou com uma das mãos e afagou-lhe os cabelos com a outra: — Por favor, me beije, meu querido marido.
— Como queira, minha encantadora mulher. — Mal seus lábios tocaram os dela, Demetria os entreabriu para a língua quente e sensual, soltando um pequeno murmúrio de prazer quando ele a acomodou de costas na cama e se debruçou sobre ela. Era disso que ela gostava. Gostava dos lábios de Joseph nos seus e do corpo dele pressionando o seu que parecia latejar, com os pequenos estremecimentos que sentia.
Era suficiente que fizessem apenas aquilo sempre. Não via a necessidade de mais nada, a não ser que fosse necessário quando quisessem ter filhos, pensou. Aí não teria outra alternativa a não ser enfrentar o bastão.
Joseph colocou a mão no seio de Demetria através do fino tecido da camisola, e sua capacidade de pensar acabou ali. Arfando, Demetria arqueava o corpo a cada toque dele. Ele começou delicadamente a brincar com seu mamilo, provocando ondas de excitação em seu corpo, fazendo-a enterrar as unhas em seus ombros.
As pernas de Demetria se movimentavam desassossegadas. Reagindo a uma necessidade quase inconsciente, Joseph subitamente virou de lado e, segurando-a pelos quadris, puxou-a também de lado para mais junto dele. Escorregou então uma perna entre as dela. O contato da pele contra a sua foi a sensação mais erótica que Demetria tivera. Foi assim que notou que sua camisola havia subido, mas pouco se importou. Pelo contrário, mexeu novamente as pernas para acomodar melhor a do marido no alto de suas coxas. A perna de Joseph começou então a pressioná-la com movimentos delicados e insistentes, aos quais seu corpo imediatamente respondeu pressionando-o também.
Demetria teve uma vaga consciência de que seu corpo se contorcia na tentativa de usufruir de toda a excitação e prazer que ele lhe despertava, mas de uma coisa tinha certeza, queria mais do que aquilo.
Joseph interrompeu o beijo e deslizou os lábios na pele macia do rosto de Demetria, mordiscando lhe a orelha e descendo como brasa pelo pescoço delicado enquanto as mãos fortes tratavam de abrir a camisola dela.
Quando a mão de Joseph se apossou de seu seio, Demetria teve um estremecimento de prazer. Joseph iniciou um caminho de beijos por seu ombro e colo. Quando a boca quente e úmida tocou o seio, Demetria gemeu. Ele deixou que o mamilo lhe escapasse da boca para fitá-la intensamente. Havia fogo na expressão de Joseph. Então tornou a beijá-la.
Não foi um beijo gentil, foi um beijo guloso, exigente, quase furioso que imediatamente despertou em Demetria a mesma urgência e volúpia, fazendo-a retribuir com igual paixão e necessidade. O beijo se tornou tão imperioso que quando ele finalmente levantou a cabeça, Demetria deu-se conta de que estava deitada de costas e ele havia se instalado entre suas pernas.
Demetria estava arfando e prendeu a respiração quando Joseph a beijou primeiro em um olho e depois no outro. Joseph estava tão perto que ela pode enxergar o rosto másculo. Percebeu que a cicatriz na face em nada comprometia a beleza do marido. Demetria esboçou um sorriso e sentiu o coração apertar no peito só de olhar para o homem que havia transformado sua vida, com tanta atenção e carinho.
— Eu... — Demetria se pegou quase dizendo que o amava.
Piscou confusa. Não era possível que ela já o amasse. Era cedo demais para amar tanto e tão facilmente. Ou aquilo realmente seria amor?
Perdida em pensamentos, de repente Demetria sentiu as mãos de Joseph percorrendo seu corpo e notou não só que ele havia se ajoelhado, como também que sua camisola parecia um cinto em volta de sua cintura, deixando o corpo desnudo acima e abaixo dela. Ela podia sentir os olhos de Joseph devorando-a enquanto afagavam seu corpo com mãos cada vez mais famintas até agarrarem seus dois seios.
Meio inconsciente sob aquele olhar, Demetria lutava para não soltar nenhum gemido, mas no momento em que ele tocou em seus seios, um gemido baixo escapou-lhe da garganta. Soltou um outro gemido quando as mãos de Joseph deslizaram pelas curvas de seu corpo alcançando seus quadris. Demetria estava indócil na cama, desejando ser beijada novamente, ou que prosseguisse mais para baixo em suas carícias.
Mal acabara de ter esse pensamento, uma das mãos de Joseph mergulhou entre suas coxas. Demetria fechou os olhos e estremeceu ao toque. Sua excitação estava chegando a um ponto intolerável. De repente, Joseph se inclinou e esfregou o rosto em seu ventre, primeiro em uma direção, depois na outra, descendo suavemente.
Demetria pressentiu as intenções dele. Retesou o corpo, com os joelhos arqueados e os pés fincados na cama enquanto delicadamente Joseph colocava a cabeça entre suas coxas. Era demais. Muito mais do que estava conseguindo suportar, tentando ainda reprimir os gemidos que lutavam para sair de sua boca. Para seu desespero, uma das mãos de Joseph percorreu de novo seu corpo, apalpando-lhe ora um seio ora o outro.
Embora constrangida, Demetria desistiu de tentar se controlar e deu vazão aos sentimentos. Suas mãos apertavam os lençóis, seus pés alternavam-se entre comprimir a cama e acariciá-lo. Quando pensou que já não aguentava mais a agonia da excitação, soltou os lençóis e agarrou a cabeceira da cama, dando-se conta de que Joseph mudara de posição e estava agora em cima dela. A boca ávida cobriu a sua num beijo ardente, que ela retribuiu sugando aquela língua que lhe pedia mais. Um instante depois, gritou espantada, sentindo algo firme e forte dentro de seu corpo.
Ambos congelaram e permaneceram completamente calados por um momento. Então Joseph tirou seus lábios dos dela vagarosamente, olhando-a preocupado.
— Você está bem? — perguntou com um fio de voz.
Demetria engoliu em seco, depois movimentou o corpo um pouquinho, percebendo que ainda estavam unidos. Ele havia colocado a chave na fechadura, pensou, mas não havia sentido nem um pingo de dor. Embora toda a sua excitação tivesse repentinamente cessado com a surpresa do intruso, nada tinha sido como Taylor havia descrito.
— Sua torta foi rompida. Me perdoe, achei melhor acabar logo com isso. Você está bem?
Demetria assentiu com a cabeça, observando a expressão tensa dele. Dos dois, ele é que parecia estar sofrendo mais, por isso foi a vez de ela perguntar:
— E com você, está tudo bem?
— Está — o tom não foi muito convincente e ele logo quis saber: — Ainda está doendo?
— Para ser sincera, milorde, não doeu quase nada.
— Mas você gritou.
— Por causa da surpresa — ela admitiu.
— Como você se sente agora?
— Esquisita — Demetria disse com sinceridade e sorriu. — E um pouco decepcionada.
— Decepcionada?
— Sim, eu estava... — Corando muito, Demetria abaixou os olhos e confessou: — Eu estava gostando do que você estava fazendo e queria sentir novamente o que senti na noite do incêndio. Mas desta vez só senti... O que você está... Oh! — Demetria arfou surpresa quando Joseph ergueu somente um pouco o corpo, sustentando-o em um braço, e deslizou a outra mão entre eles para tocá-la.
— Nossa... Oh, marido... — Demetria respirou fundo e seus quadris começaram automaticamente a se mexer, sentindo-se novamente excitada com as carícias dele. —Assim... assim... assim... Ohhhhh! — ela gemeu, apertando os braços dele.
Joseph riu, mal conseguindo respirar por causa da própria excitação; depois inclinou a cabeça para beijá-la.
Arfando, Demetria quase delirou quando ele delicadamente retirou a mão de seu corpo e começou a se movimentar lentamente dentro dela.
Era isso então, pensou maravilhada, o bastão e a torta, a chave e a fechadura, o homem e a mulher. Um dando prazer ao outro.
Passou pela cabeça de Demetria então que, enquanto Joseph a beijava e a acariciava, ela só fazia se agarrar a ele como se o marido fosse a tábua de salvação de um náufrago em águas revoltas. Pensou por um momento no que poderia fazer para também agradá-lo. Talvez pudesse beijá-lo no peito... A excitação, porém, cresceu dentro dela, e ela resolveu pensar no assunto em uma outra hora, concentrando-se em Joseph que de corpo e alma estava empenhado em conduzi-la ao paraíso.
— Ah, você está aqui!
Demetria arrancou os óculos do nariz e os enfiou no bolso da saia, voltando-se depois em direção à voz do marido que atravessava a sala para ir ter com ela.
— Quando acordei, você havia fugido — Joseph protestou, abaixando-se para dar um rápido beijo na boca de Demetria.
Ela suspirou de prazer ao sentir o contato dos lábios dele e ergueu os braços envolvendo o pescoço do marido. Acordara de madrugada e levantara silenciosamente para ir se trocar em seu quarto. Joan ainda não estava lá e Demetria não quis esperá-la para se vestir. Tinha um objetivo em mente que desejava pôr em prática antes que o pessoal da casa se levantasse.
Sua ideia era pesquisar a biblioteca para ver se achava um livro que ensinasse como a mulher poderia agradar ao marido. Depois de se vestir e colocar os óculos, ela descera sem ser vista e estava lá bisbilhotando havia uma hora.
Para sua decepção, não conseguira encontrar um único volume sobre o assunto. Somente havia encontrado uns poucos livros que sugeriam a importância de manter a casa em ordem e o orçamento equilibrado.
Seu pensamento estava vagando e ela exclamou de surpresa quando Joseph subitamente a pegou no colo e se voltou para a porta, beijando-a.
— Você não se vestiu — ela interrompeu o beijo ao sentir o tecido de seda do robe sob seus dedos.
— E nem você deveria estar vestida ainda — Joseph reclamou, carregando-a em direção à porta da biblioteca. — Acabamos de nos casar, não deveríamos nem sair de nosso quarto por pelo menos uma semana.
— Tudo isso? — perguntou Demetria espantada.
— Não, essa deveria ser a regra — Joseph esclareceu, rindo e começando a subir as escadas que saíam do hall de entrada.
— Nada disso. Como poderíamos visitar o feliz casal se resolvesse não sair da cama?
Joseph parou imediatamente e ambos se voltaram para ver de quem eram aquelas palavras.
Mikey Greville estava parado à entrada da casa com Jessop, o mordomo. Ambos pareciam rir, e Demetria nesse momento sentiu-se satisfeita de que pelo menos ela estivesse vestida.
Ao sentir um tapinha nas costas, Joseph entendeu a mensagem silenciosa e colocou Demetria no chão. Ela então o beijou no rosto como que se desculpando e, voltando-se para o visitante, sorriu.
— Você é o primeiro a me visitar em minha casa nova — disse, atravessando o hall para cumprimentá-lo.
— Tenha certeza de que serei o primeiro de várias outras visitas que irão receber — Mikey avisou, alegre. — Estou sabendo que tia Isabel e Mary pretendem passar por aqui mais tarde. E seu pai certamente virá para ver como você está. Na verdade, acho que meia cidade vai aparecer para examiná-la depois de sua primeira noite de casada.
Demetria voltou o olhar sobre os ombros em direção a Joseph que soltara um grunhido. Entendia perfeitamente a reação dele. Também preferiria evitar esse monte de visitantes logo após a noite de núpcias. Afinal, era um momento muito íntimo e pessoal. A sensação era a de pura invasão, e não gostava nada de pensar que certamente estariam curiosos para saber se o casamento havia sido consumado, o que era extremamente constrangedor.
— Jessop — Joseph falou de repente.
— Sim, milorde? — O mordomo até endireitou o corpo ante a rispidez da voz de Joseph.
— Providencie para que as duas carruagens sejam preparadas e trazidas aqui para a frente da casa. Depois peça a Joan e a meu criado pessoal que venham até aqui imediatamente. Estamos indo para Mowbray dentro de uma hora.
Demetria arregalou os olhos. Joseph caminhou até ela e a pegou pela mão para subirem a escada.
— Mas, e lorde Greville? — ela perguntou ao subirem os primeiros degraus. — Ele veio nos visitar, não podemos simplesmente deixá-lo aqui e..
— Ele não veio nos visitar — Joseph assegurou a ela, calmamente.
Demetria virou-se para dirigir o olhar à porta e viu o vulto borrado de Mikey ainda parado ali.
— Não. Meu primo nunca se levanta tão cedo. Ele está no caminho de volta para casa agora e teve a gentileza de parar aqui para nos avisar de que, se ficarmos, seremos bombardeados de visitantes.
— Será? — perguntou Demetria incrédula.
— Sem dúvida — Joseph garantiu.
Ao saber que corriam o risco de receber muitas visitas, Joseph se pôs em ação. Primeiro acompanhou Demetria até o quarto dela e sugeriu que ela escrevesse uma carta ao pai, explicando que haviam decidido viajar para Mowbray, para descansar depois do casamento. Joseph gostava do sogro e não queria que ele se preocupasse com essa partida inesperada. Também sugeriu que Demetria o convidasse para ir visitá-los quando estivesse a caminho de sua residência no campo, o que, segundo ele havia comentado, se daria em uma ou duas semanas.
Joseph esperava que até então teria tido tempo suficiente com a esposa para não se importar de ter um visitante em casa. Esperava também, e com maior fervor ainda, que o sogro chegasse sozinho para que não precisassem ver a cara de Taylor. — Então, marido — Demetria perguntou. — O que devo pedir para Joan pôr na mala?
— Tudo. — Foi a resposta sucinta de Joseph.
— Tudo? — Ela espantou-se, e Joseph franziu o cenho. Ele odiava Londres e esperava não ter de voltar para lá tão cedo. Mas agora tinha uma esposa, cuja vontade também precisava ser levada em consideração.
— Você queria ficar em Londres para a temporada? — perguntou, inseguro.
— Oh, não — Demetria respondeu tão prontamente que ficava evidente não ter dito aquilo apenas para agradá-lo. Depois de um instante, ela acrescentou: — Receio ser como minha mãe que não tinha muita paciência com a sociedade dita bem-educada.
— Que bom — Joseph sorriu e a beijou, feliz de que ela fosse tão perfeita. Depois reiterou: — Faça com que Joan ponha tudo nas malas, então.
Assentindo com a cabeça, Demetria entrou no quarto e quase tropeçou no pé de uma cadeira perto da porta, tão apressada estava. Joseph conseguiu segurá-la e afastou a cadeira. Foi então que lhe ocorreu que não haviam encomendado óculos novos para ela. Considerou brevemente a possibilidade de retardarem um pouco a viagem, mas logo mudou de ideia. Poderiam providenciar os óculos no vilarejo, em Mowbray, talvez. Ainda estava relutante de que a esposa pudesse vê-lo bem, tão depressa. A noite anterior havia sido um ótimo começo para o casamento, mas gostaria de ter mais umas semanas para solidificar o relacionamento deles antes de expor sua cicatriz.
Incomodado com seu egoísmo de manter a esposa às cegas, Joseph franziu o cenho ao fechar a porta do quarto dela e entrar em seu próprio quarto. Não conseguia deixar de dizer a si mesmo que a vida de Demetria seria muito mais fácil se tivesse os óculos. Sem dizer que seria muito mais segura também. Preocupava-se que ela continuasse correndo o risco de cair das escadas, de se queimar ao acender uma vela, mas receava que reagisse mal à sua cicatriz.
Joseph passou a mão no rosto. Somente mais algumas semanas, prometeu a si mesmo. Compraria então os óculos para Demetria para que ela pudesse ler e se movimentar com segurança. Enquanto isso, leria para ela e cuidaria dela para que não sentisse muito a falta dos óculos. E alertaria todo o pessoal de Mowbray para que estivesse atento quanto à segurança de sua esposa. Seria essa a maior prioridade de todos.
Satisfeito com tal decisão, atirou o robe na cama e se aproximou do armário para separar as roupas. Estava meio vestido quando seu criado pessoal entrou no quarto. Keighsley logo se prontificou para ajudá-lo a terminar de se vestir, mas Joseph o dispensou, recomendando que ele começasse a fazer as malas e descreveu toda a ajuda de que necessitava para que pudessem partir o mais rápido possível.
Uma vez vestido, Joseph foi até o quarto de Demetria para ver se ela havia terminado a carta. Joan se encontrava lá, tendo um enorme trabalho para refazer as malas que havia desfeito no dia anterior. Joseph disse à criada que enviaria alguém para ajudá-la e desceu com Demetria. Entregou a carta a Jessop para que enviasse por um portador à casa de lorde Lovato. Então foram para a sala de jantar. Como esperado, a cozinheira havia preparado um café da manhã especial. Os dois, famintos depois de toda a extenuante atividade noturna, comeram de tudo com prazer.
Os criados ainda não haviam terminado de fazer as malas quando eles acabaram a refeição, e Joseph não quis mais aguardar. Pediu a Jessop que carregasse na primeira carruagem o que já estivesse pronto. Joan e Keighsley seguiriam com o restante de seus pertences na segunda carruagem. Ele então apressou Demetria para partirem e só sossegou quando a viu dentro da carruagem, dando depois instruções ao condutor.
— Nossa — disse Demetria, respirando fundo, quando o marido se juntou a ela na carruagem um momento depois. — Quando você coloca uma coisa na cabeça, quer que aconteça rapidamente.
Joseph sorriu ao ver a expressão estarrecida de Demetria. Inclinando-se, beijou-lhe a ponta do nariz e perguntou:
— Você não se importa mesmo de deixarmos a cidade tão depressa, não é? Sei que você estava feliz de usufruir da companhia de seu pai.
— E usufruirei novamente quando ele passar em casa — ela respondeu calmamente. — Não, milorde, não me importo mesmo. Pior seria se tivéssemos companhia demais hoje.
Demetria corou ao admitir isso, pois ficava claro que a razão de seu desconforto tinha a ver com o que haviam protagonizado durante a noite passada. Joseph sorriu e a puxou para seu colo.
Demetria soltou um grito de surpresa, segurando-se nos ombros de Joseph quando ele a ajeitou contra seu corpo.
— Você está dolorida hoje? — Joseph perguntou enternecido, dando-lhe um leve beijo na testa, depois em cada olho.
— Não. Por quê? Eu deveria estar?
— Não sei — Joseph confessou. Ele a beijou suavemente nos lábios e sorriu sem afastá-los ao vê-la derreter-se contra ele. Então cochichou: — Demetria?
—Hum?
— Você se lembra daquela vez em que estávamos na carruagem e você me perguntou sobre as diferentes posições que um homem e uma mulher poderiam usar para fazer amor?
— Lembro — ela o interrompeu, corando graciosamente.
— Bem... — Joseph fez uma pausa para mordiscar o pescoço dela.
Demetria gostou de sentir os arrepiozinhos que lhe passavam pelo corpo. Delícia pensar que ele não só podia causar aqueles arrepios de excitação, como poderia causar muito mais prazer a ela ainda. Na noite anterior havia gritado ao terminarem de fazer amor pela segunda vez.
Joseph sentia-se abençoado por ter uma mulher muito sensual, tinha consciência de que era uma sorte. Embora ainda tímida e inocente, quando excitada, ela perdia toda a inibição e se entregava completamente às novas experiências.
— Então? — Demetria cobrou que ele completasse o que ia dizer.
Sorrindo, Joseph enfiou a mão sob a saia dela, depois curvou a cabeça para beijar um dos seios sobre o decote do vestido, ao mesmo tempo em que a outra mão tratava de abaixá-lo até que o seio saltasse para fora. Ele sorriu ao ver que o mamilo já estava enrijecido... Da mesma forma em que ele também estava. Ambos eram altamente inflamáveis, juntos logo pegavam fogo.
— Bem... — continuou ele, dando uma lambidinha na pele exposta. — Lembro de você ter dito que as viagens de carruagem eram longas e maçantes.
— Quase nada é maçante quando você está por perto, milorde — Demetria retrucou rindo e soltou um gemido quando ele abocanhou seu mamilo e o mordiscou.
— Hum. — Joseph sorriu ao vê-la estremecer e arquear as costas, acrescentando depois: — Me pergunto se você não gostaria de passar o tempo testando a posição que eu estava lhe mostrando naquele dia?
A respiração de Demetria tornou-se ofegante e ela se ajeitou no colo do marido, abrindo um pouco as pernas quando a mão de Joseph subiu lentamente por sua coxa.
— Qual delas, milorde? — quis saber, lembrando-o de que ele havia mostrado duas posições diferentes antes de a carruagem parar e jogá-los ao chão.
Os lábios de Joseph brincaram em volta do mamilo de Demetria, enquanto seus dedos finalmente alcançavam suas partes íntimas.
— Oh, marido... Demetria gemeu, agarrando a cabeça de Joseph e movimentando os quadris para se ajeitar, pressionando assim a ereção dele, o que o fez gemer também.
— Que posição? — ela repetiu com urgência, afagando-lhe os cabelos.
Joseph largou o seio que tinha na boca e tirou a mão que estava sob a saia de Demetria para poder usar as duas mãos. Tratou então de descer o vestido dela pelo decote até que ambos os seios ficassem expostos ao ar e à sua visão.
— As duas — respondeu, apalpando-lhe os dois seios. — As duas posições e talvez outras. A viagem é longa.
— Milorde! — Demetria exultou. — Creio que vou gostar muito mais desta viagem do que a que fiz com Taylor para Londres!
— Espero que sim, minha esposa — disse Joseph, gargalhando. — Afinal, tenho uma vantagem sobre sua madrasta.
— Você tem muitas — Demetria assegurou, quase sem voz, beijando-o nos lábios. — Mas de qual você está falando?
— Eu tenho a chave de sua fechadura.
Demetria piscou e riu baixinho, riso que foi calado por Joseph com novo beijo.


demorei mas postei

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